março 27, 2024

****************** As TRÊS FACES de JOAN BENNETT


“Não gosto da maioria dos filmes que fiz, 
mas gostei muito de ser estrela de cinema.”
JOAN BENNETT em 1986
 
Olhos: azuis
Cabelos: louros
Apelido: Joanie
Altura: 1,61 m

 
 
Ela é uma das minhas atrizes favoritas. Assisti a maioria dos seus setenta filmes. Brilhou em três fases distintas em sua longa e bem-sucedida carreira. Primeiro como uma loira ingênua e cativante, depois como uma morena glamorosa e fatal (frequentemente comparada a austríaca Hedy Lamarr) e, por fim, como esposa elegante e mãe carinhosa em comédias espirituosas inesquecíveis. O charme tranquilo e a voz rouca de JOAN BENNETT (1910 - 1990. Fort Lee, Nova Jersey / EUA) conferiam na atriz uma atração irresistível. Não há dúvida de que o período de femme fatale, na década de 1940, é o mais marcante na memória cinéfila, inclusive porque nele atuou em seus mais icônicos filmes noir.
 
Embora não seja muito lembrada atualmente, foi estrela durante duas décadas e uma boa atriz. A mais nova das três filhas dos famosos atores de teatro Richard Bennett e Adrienne Morrison, ela muitas vezes excursionou com os pais pelos Estados Unidos. Na verdade, veio de uma longa linhagem de atores, que remonta ao século 18. Linda, sexy e envolvente, com olhos dramáticos, fez uma ampla variedade de papéis - um verdadeiro deleite para o público. Aos quatro anos, aconteceu sua primeira aparição no palco, e estreou em filmes aos seis anos, ao lado da família, em “O Vale da Decisão / The Valley of Decision” (1916). 
 
Aos 16 anos se casou em Londres com John Marion Fox, que tinha 26 anos. O casamento fracassou em pouco tempo, principalmente por causa da bebedeira excessiva do marido. Em 1928, tiveram uma menina e se divorciaram no mesmo ano. Com um bebê para sustentar, ela resolveu trabalhar como atriz. Estreou no palco no mesmo ano com seu pai, em “Jarnegan”, peça que teve 136 representações na Broadway. Aos dezenove anos, tornou-se estrela através de filmes populares como “Amante de Emoções / Bulldog Drummond” (1929), com Ronald Colman, e “Moby Dick / Idem” (1930), com John Barrymore.

 
Contratada da Fox Film Corporation, apareceu em 14 filmes como protagonista. Não só o público gostava dela, mas também os críticos. Em 1932, casou-se com o roteirista Gene Markey, mas o casal se divorciou em 1937. Eles tiveram uma filha, Melinda. A atriz deixou a Fox para atuar na RKO Radio Pictures, ao lado de Katharine Hepburn, em “As Quatro Irmãs” (1933), dirigido por George Cukor. Este drama famoso chamou a atenção do produtor Walter Wanger (1894 – 1968. São Francisco, Califórnia / EUA) que a contratou e passou a orientar sua carreira.
 
Durante esse período, estava radiante em sua beleza juvenil. Na filmagem de “Segredos de um Don Juan / Trade Winds” (1938), Wanger e o diretor Tay Garnett a persuadiram a mudar a cor de seus cabelos, de loura para morena. Combinando com seus olhos sensuais, o novo visual resultou em uma personalidade mais cativante. Com esta aparência, passou a interpretar femmes fatales, extremamente belas e perigosas. Parecia sedutora e vulnerável na superfície, enquanto no interior escondia uma fria maldade. Fritz Lang e outros diretores expressaram admiração pela sua contribuição, e alguns críticos a descreveram como “síntese da heroína do film noir”.
 
Disputando o cobiçado papel de Scarlett O'Hara em “... E o Vento Levou / Gone with the Wind” (1939), JOAN BENNETT impressionou o produtor David O. Selznick, ficando entre as quatro finalistas, juntamente com Jean Arthur, Vivien Leigh e Paulette Goddard. Em 12 de janeiro de 1940, ela e Walter Wanger se casaram em Phoenix. Tiveram duas filhas, Stephanie (nascida em 1943) e Shelley (nascida em 1948). Ele começou a produzir filmes em 1929. Entre os seus trabalhos mais importantes estão “Rainha Cristina / Queen Christina” (1933), com Greta Garbo; “Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent” (1940), de Alfred Hitchcock; “Vampiros de Alma / Invasion of the Body Snatchers” (1956), clássico de ficção-científica; “Quero Viver! / I Want to Live!” (1958), que deu o Oscar de atriz à Susan Hayworth, e a superprodução “Cleópatra / Idem” (1963), estrelada por Elizabeth Taylor. 
 
walter wanger e joan bennett
Por muito tempo, JOAN BENNETT foi representada por Jennings Lang. Na tarde de 13 de dezembro de 1951, combinaram um encontro para discutir a participação da estrela em um programa televisivo. A reunião aconteceu em Santa Monica Boulevard. Walter Wanger dirigia pelas redondezas, notou o carro da esposa estacionado e decidiu esperá-la. Com o fim do almoço de negócios, a atriz e seu agente voltaram para seus veículos, mas ficaram um tempo conversando na porta do Cadillac dela. Bastou esta cena, para um surto de ciúmes do produtor, que saiu de seu automóvel e atirou duas vezes em Jennings Lang. Uma bala atingiu sua coxa direita e outra penetrou sua virilha.
 
Levaram o criminoso sob custódia. A atriz negou a acusação de traição: “Se Walter acha que as relações entre Lang e eu são românticas ou qualquer coisa, exceto estritamente comerciais, ele está errado”. Condenado por tentativa de homicídio, Wanger cumpriu pena de quatro meses, mas o casal permaneceu casado até o divórcio em 1965. O agente se recuperou após passar alguns dias no pronto socorro. Esse foi um dos maiores escândalos de Hollywood, afetando a carreira de JOAN BENNETT. A atriz entrou na lista negra dos estúdios, sendo raramente convidada para filmar. Parecia ser o fim da diva. Difamada na coluna de fofocas de Hedda Hopper, enviou a jornalista um gambá, com uma nota que dizia: “Você fede!”.
 
Participou de vários programas de rádio entre 1930 e 1950, atuando em “The Edgar Bergen”, “Charlie McCarthy Show”, “Duffy's Tavern” e a série “Lux Radio Theatre”, entre outros. Também atuou em teatro, aparecendo no palco em Chicago no papel da bruxa Gillian Holroyd em “Bell, Book and Candle”, e depois fez uma turnê com a produção. À medida que as ofertas de filmes diminuíram, ela continuou com inúmeros sucessos nos palcos, como “Susan e God”, “Once More, with Feeling”, “The Pleasure of His Company” e “Never Too Late”. Atuou com sucesso na TV, incluindo os cinco anos da série gótica “Sombras Tenebrosas / Dark Shadows”, de 1966 a 1971, pelo qual recebeu uma indicação ao Emmy de Melhor Atriz.
 
Em 1970 publicou suas memórias, “The Bennett Playbill”, escrita com Lois Kibbee, e em 1978 se casou com o crítico de cinema David Wilde. O casamento durou até sua morte. Seu último filme foi o thriller de terror “Suspiria / Idem” (1977), e na TV, em “Guerras do Divórcio / Divorce Wars: A Love Story” (1982). Morreu de um ataque cardíaco em 7 de dezembro de 1990, aos 80 anos. Em seu obituário no “New York Times”, foi retratada como “uma das atrizes mais subestimadas de seu tempo”. Tem uma estrela na Calçada da Fama, em 6310 Hollywood Boulevard.
 
robert ryan e joan bennett em a mulher desejada

10 FILMES de JOAN BENNETT
(por ordem de preferência)
 
01
ALMAS PERVERSAS
(Scarlet Street, 1945) 

Direção: Fritz Lang
Elenco: Edward G. Robinson, Dan Duryea, Margaret Lindsay e Vladimir Sokoloff
 
02
Na TEIA do DESTINO
(The Reckless Moment, 1949) 

Direção:Max Ophüls
Elenco: James Mason e Geraldine Brooks
 
03
Um RETRATO de MULHER
(The Woman in the Window, 1944)

Direção: Fritz Lang
Elenco: Edward G. Robinson, Raymond Massey e Dan Duryea
 
04
As QUATRO IRMÃS
(Little Women, 1933) 

Direção: George Cukor
Elenco: Katharine Hepburn, Paul Lukas, Edna May Olivier, Frances Dee, Douglass Montgomery e Spring Byington
 
05
O HOMEM que QUIS MATAR HITLER
(Man Hunt, 1941)

Direção: Fritz Lang
Elenco: Walter Pidgeon, George Sanders, John Carradine e Roddy McDowall
 
06
O SEGREDO da PORTA FECHADA
(Secret Beyond the Door, 1947) 

Direção: Fritz Lang
Elenco: Michael Redgrave, Anne Revere e Barbara O'Neil
 
07
A MULHER DESEJADA
(The Woman on the Beach, 1947) 

Direção: Jean Renoir
Elenco: Robert Ryan e Charles Bickford
 
08
CHAMAS QUE NÃO se APAGAM
(There's Always Tomorrow, 1956)

Direção: Douglas Sirk
Elenco:Barbara Stanwyck, Fred MacMurray e Jane Darwell
 
09
MUNDOS ÍNTIMOS
(Private Worlds, 1935)

Direção: Gregory La Cava
Elenco:Claudette Colbert, Charles Boyer e Joel McCrea
 
10
O PAPAI da NOIVA
(Father of the Bride, 1950) 

Direção: Vincente Minnelli
Elenco: Spencer Tracy, Elizabeth Taylor e Billie Burke
 
GALERIA de FOTOS





fevereiro 23, 2024

******* 13 CINEASTAS FRANCESES ESQUECIDOS

henri-georges clouzot


“Sou apenas um artesão que trabalha numa indústria grande e importante pela influência social e poder na divulgação de ideias.”
JACQUES FEYDER
 
“Filmagens são absolutamente horríveis. Eu chamo isso de formalidade tediosa. Eu odeio filmar. Meu único alívio em todo esse negócio cansativo são os momentos maravilhosos em que estou dirigindo os atores.”
JEAN-PIERRE MELVILLE
 
 
A cinematografia francesa clássica foi muitas vezes rejeitada e maltratada, mas não há dúvidas de sua sofisticação e inovação. Desde 1895, na ocasião em que os irmãos Lumière projetaram uma imagem em movimento no Grand Café, em Paris, o cinema se tornou uma paixão nacional, resultando em obras impactantes. Essa tradição cinematográfica tem um dos mais ricos patrimônios do mundo. São filmes reconhecidos pela qualidade técnica, narrativa complexa, profundidade emocional e ousadia estética. Seus personagens e temas se tornaram ícones culturais e inspiraram a moda, a música e outras formas de arte.
 
No famoso artigo
“Uma Certa Tendência do Cinema Francês, publicado na lendária revista “Cahiers du Cinema” (n° 31, janeiro de 1954), o futuro cineasta François Truffaut atacou a “tradição de qualidade” desse cinema, desprezando impiedosamente diretores premiados e poupando apenas alguns eleitos – Jean Renoir, Jacques Becker, Jacques Tati, Robert Bresson, Jean Cocteau -, considerados “autores”. Nada mais do que um chilique esnobe, possivelmente direcionado para gerar polêmica. Fã de carteirinha dessa cinematografia, resgato treze cineastas que fizeram história com preciosos e esquecidos filmes. Confira.
 
01
GEORGES FRANJU
(1912 – 1987. Fougères, Ille-et-Vilaine / França)

Cineasta de primeira grandeza, dono de uma filmografia inventiva, interessante e com influência do surrealismo. Era um respeitável documentarista antes de fazer longas de ficção. Seu cinema alcança o insólito e a poesia.

Três Filmes:
A Cabeça Contra a Parede / La Tête Contre les Murs (1959)
Os Olhos sem Rosto / Les Yeux sans Visage (1960)
Relato Íntimo / Thérèse Desqueyroux (1962)
 
02
HENRI-GEORCES CLOUZOT
(1907 – 1977. Niort, Deux-Sèvres / França)

Admirado na sua época, ficou conhecido como “o Hitchcock francês”. Meticuloso e conhecedor dos truques técnicos da sétima arte, foi um dos mais célebres diretores do cinema europeu nos anos 40 e 50. Casou-se com a atriz brasileira Vera Amado.

Três Filmes:
Manon, Anjo Perverso / Manon (1949)
O Salário do Medo / Le Salaire de la Peur (1953)
As Diabólicas / Les Diaboliques (1955)
 
03
JACQUES BECKER
(1906 – 1960. Paris / França)

Apaixonado pelos seres humanos, seus filmes impressionam pela autenticidade.  Foi um dos poucos realizadores da velha guarda louvado pelos críticos da “Cahiers du Cinéma”, a começar por Truffaut, que encontrou nele fonte de inspiração.

Três Filmes:

Amores de Apache / Casque d'Or (1952)
Grisbi, Ouro Maldito / Touchez pas au Grisbi (1954)
Os Amantes de Montparnasse/ Les Amants de Montparnasse (1958)
 
04
JACQUES DEMY
(1931 – 1990. Pontchâteau, Loire-Atlantique / França)
O espaço para a música sempre foi sua particularidade, e seus longas contam com compositores renomados. O musical “Os Guarda-Chuvas do Amor” teve enorme sucesso e recebeu a Palma de Ouro (Melhor Filme) no Festival de Cannes.

Três Filmes:
Lola, a Flor Proibida / Lola (1961)
A Baia dos Anjos / La Baie des Anges (1963)
Os Guarda-Chuvas do Amor / Les Parapluies de Cherbourg (1964)
 
05
JACQUES FEYDER
(1885 – 1948. Ixelles, Brabant / Bélgica)

Realizou grandes filmes tanto no cinema silencioso quanto no sonoro. Sabia conciliar arte e entretenimento. De origem belga, tornou-se cidadão francês em 1928. Conheceu a atriz Françoise Rosay no ambiente teatral e se casou com ela em 1917.

Três Filmes:
Visões de Criança / Visages d'Enfants (1925)
A Última Cartada / Le Grand Jeu (1934)
Quermesse Heróica / La Kermesse Héroïque (1935)
 
06
JEAN GRÉMILLON
(1901 – 1959. Bayeux, Baixa Normandia / França)

Nenhum de seus filmes obteve um verdadeiro sucesso comercial, mas estão entre os mais belos produzidos na França. Discreto e sensível, sempre interessado nas relações humanas, seus dramas muitas vezes giram em torno do mar.

Três Filmes:
Águas Tempestuosas / Remorques (1941)
Mulher Cobiçada / Pattes Blanches (1949)
O Amor de uma Mulher / L'Amour d'une Femme (1953)
 
07
JEAN-PIERRE MELVILLE
(1917 – 1973. Paris / França)

Admirador da cultura norte-americana, da qual derivou o seu nome artístico (homenagem ao autor de “Moby Dick”, Herman Melville). Nos seus policiais, uma galeria de solitários e marginais, intensidade dramática, sobriedade, ritmo lento.

Três Filmes:
O Samurai / Le Samouraï (1967)
O Exército das Sombras / L'Armée des Ombres (1969)
O Círculo Vermelho / Le Cercle Rouge (1970)
 
08
JULIEN DUVIVIER
(1896 – 1967. Lille / França)

Experimentou diversos gêneros. Com notável noção de cinema, realizou, com sensibilidade e beleza, filmes marcantes. Admirado por Ingmar Bergman e Jean Renoir, dirigiu seu primeiro filme em 1919 e filmou em Hollywood.

Três Filmes:
O Demônio da Algéria / Pépé le Moko (1937)
Um Carnê de Baile / Un Carnet de Bal (1937)
Pânico / Panique (1946)
 
09
MARCEL CARNÉ
(1906 – 1996. Paris / França)

Dirigiu seu primeiro filme aos 25 anos. Um dos mestres do expressivo movimento Realismo Poético Francês, seu clássico “O Boulevard do Crime” foi eleito no final de 1990 o Melhor Filme Francês do Século em votação de 600 críticos franceses.

Três Filmes:
Cais das Sombras / Le Quai des Brumes (1938)
Hotel do Norte / Hôtel du Nord (1938)
O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis (1945)
 
10
MARCEL L'HERBIER
(1888 – 1979. Paris / França)

Estreou em 1919 com “Rose-France”.O cinema mudo revelou-se o seu período criativo mais fascinante.  No cinema falado dirigiu incansavelmente gêneros muito diversos até 1953. Em filmes notáveis, desenvolveu seu tema favorito, a ilusão.

Três Filmes:
O Dinheiro / L'Argent (1928)
A Felicidade / Le Bonheur (1934)
O Colar da Rainha / L'Affaire du Collier de la Reine (1946)
 
11
MARCEL PAGNOL
(1895 – 1974. Bouches-du-Rhône / França.)

Dramaturgo, romancista, roteirista e diretor. Fundou a influente revista “Les Cahier du Film”, em 1931. Tornou-se conhecido pela representação cômica da vida provinciana no sul de França em diversos filmes, marcados por diálogos espirituosos.

Três Filmes:
César / Idem (1936)
Colheita / Regain (1937)
A Mulher do Padeiro / La Femme du Boulanger (1938)
 
12
RENÉ CLAIR
(1898 – 1981. Paris / França)

Sua carreira vitoriosa durou mais de cinco décadas. Após o sucesso na França, realizou filmes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, voltando ao seu país natal no final dos anos 40. Ganhou reputação com sátiras sociopolíticas.

Três Filmes:
A Nós a Liberdade / À Nous la Liberté (1931)
Quatorze de Julho / Quatorze Juillet (1933)
As Grandes Manobras / Les Grandes Manoeuvres (1955)
 
13
RENÉ CLÉMENT
(1913 – 1996. Bordeaux, Gironde / França)

Depois de uma animação, curtas-metragens e documentários, levou dois prêmios de Melhor Direção em Cannes e dois Oscar de Filme Estrangeiro. Foi um dos principais diretores franceses, dirigindo com originalidade e virtuosismo técnico excelente filmes.

Três Filmes:
Brinquedo Proibido / Jeux Interdits (1952)
Gervaise - A Flor do Lodo / Gervaise (1956)
O Sol por Testemunha / Plein Soleil (1960)
 
jean gabin e michèle morgan em “águas tempestuosas”